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Vivendo entre as sombras, com o bem e o mau.
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Post by Blind>RMX< on Dec 27, 2010 19:54:19 GMT -2
A cidade estava em ruínas. As grandes construções, antes prédios imponentes que alcançavam as nuvens e grandes viadutos igualmente altos, agora eram escombros irreconhecíveis, exceto por uma construção, que apesar de muito danificada, ainda se mantinha em pé e habitada. Nas ruas, corpos se espalhavam por todos os cantos. Sangue humano e fluído reploid se misturavam, pintando as calçadas de preto e vermelho. No centro da cidade, onde antes havia o grande centro de convenções, agora havia uma cratera gigantesca, como se a superfície lunar tivesse um pedacinho dela na Terra. Uma nuvem escura pairava sobre o local. Uma nuvem radioativa, herança de uma bomba nuclear. Dentro do prédio que sobrevivera ao ataque, reploids corriam de um lado para o outro, carregando tanques de energia, peças sobressalentes e alguns até humanos nas costas, os poucos humanos sobreviventes do cataclismo ocorrido na cidade, em torno de trezentos ou quatrocentos humanos. Reploids médicos tratavam de socorrer rapidamente os humanos, enquanto outros reploids, de combate, entravam e saíam da base praticamente o tempo todo. Os que retornavam quase sempre estavam em um número menor que o inicial, e os restantes estavam danificados. Num andar mais alto, dois reploids estavam parados em uma sacada, observando a devastação. O primeiro, de armadura azul, com nuanças de azul claro na skin e no peitoral, olhava fixamente para a cidade. Focos de incêndio consumiam o que a bomba em si não havia devorado. O reploid ao seu lado trajava uma armadura vermelha e branca, com duas gemas esverdeadas no peito, e por trás de seu capacete caiam longos cabelos loiros, até a altura dos joelhos. Ele carregava um sabre desativado nas mãos. -Onde nós erramos, Zero? – O azul suspirou, olhando para fora, melancólico. -Sigma sempre está um passo a frente. Não se lembra da primeira vez que ele nos atacou? X, o reploid azul, entrelaçou os dedos das mãos e olhou para Zero. Parecia ter sido ontem que a rebelião Maverick estourara. Tudo teve início quando Sigma começou a agir estranhamente. Depois, veio o alerta dos mísseis nucleares. X e Zero lutaram bravamente contra Sigma, mas foram derrotados. A cidade fora destruída, e Sigma fugira. Agora, anos depois, a mesma cena se repetia. Uma grande bomba veio do céu, e a cidade que nunca dormia, Nova Utopia, havia fechado os olhos para o sono eterno. O ataque foi assinado pelo próprio Sigma, em uma transmissão para a base dos Maverick Hunters. O Dia de Sigma, como era chamada a primeira rebelião, se repetira.
ROCKMAN X GUERRA DECLARADA
As atenções de X e Zero foram desviadas pelas luzes. Eles voltaram os olhos para um ponto onde antes era o centro comercial da cidade. Algo muito grande se movia rapidamente nas ruas, e traços de luz explodiam para todos os lados. De repente, a máquina endireitou-se, revelando ser uma serpente robótica gigantesca. Sua boca abriu-se, e lançou um raio energético que clareou a noite que estava em completo breu. Um traço azul, seguido de pequenos tiros amarelos explodiu na cabeça da serpente, que cambaleou, desnorteada. Os reploids que a combatiam saltaram sobre os escombros, e lançaram redes elétricas, que paralisaram o colossal robô. Por fim um reploid de armadura negra atirou dentro da boca da serpente, que tremeu. O grupo correu rapidamente, enquanto o monstro explodia, fazendo uma nuvem de fogo subir. X e Zero tomaram as escadarias e foram ao encontro do batalhão.
O grupo de seis batedores vinha correndo para dentro da base. Quatro reploids armados com bazucas lançadoras de redes, um reploid médico, que carregava tanques e peças, e o líder dos batedores, que vinha à frente. Sua armadura negra era rajada por traços alaranjados, uma grande pedra redonda e azul no peito, e outra idêntica no capacete, que na parte de trás saltava o cabelo ruivo arrepiado. Ele sorriu, fazendo a marca entre os olhos se estreitar, e cumprimentou X e Zero com a mão espalmada. -Foi fácil pra caramba! Voltamos todos sãos e salvos! – Ele vangloriou-se, e sua voz não soava como a da maioria dos Hunters, de um adulto preocupado. Tinha a voz de um jovem, e sempre que falava algo, era uma piada para tentar aliviar as tensões da guerra. -Ótimo trabalho, Axl. – Zero disse, dando dois tapinhas nas costas do reploid. – Você parece inteiro. Muito bom. -É, só estou um pouco cansado. Nada que um tanque de energia não resolva. -Vá aproveitar seu tanque, Axl. Você merece. – X comentou, aprovando a ação de sucesso do grupo de batedores.
Axl abriu a porta do estoque, e procurou por um tanque. Achou uma lata bem pequena com a letra E gravada. Sorriu, pegando a lata e a abrindo. Reploids, assim como os humanos, necessitavam de um líquido para continuar sobrevivendo. O dos humanos era a água, e o dos reploids, o fluído energético. Ele tomou um gole do fluído, e seus sinais de alerta apitaram. Rapidamente ele colocou a lata sobre uma mesa e sacou as pistolas, girando sobre os calcanhares em busca da ameaça. Mas a sala estava vazia. Ele checou em torno de si mesmo mais uma vez, mas o alerta já havia cessado. Assim que guardou as pistolas, o alerta soou novamente. O radar dizia que o inimigo estava atrás dele, e quando ele se virava, o alerta indicava que estava à sua frente, porém, não havia ninguém na sala. Foi então que ele percebeu uma distorção energética logo abaixo dele. Sua sombra tremulava, como se fosse líquida. Ele se abaixou, e tocou a sombra com a ponta do dedo. Ela estava pegajosa, e grudou-se no dedo como cola. Ele chacoalhou a mão, e a sombra soltou-se. Olhou um pouco mais perto, e a sombra de sua cabeça ganhou um par de vívidos olhos vermelhos como o sangue. Antes que Axl pudesse reagir, um braço negro, de garras afiadas emergiu da sombra, e o agarrou pelo braço. Axl gritou e chutou a sombra, mas sua perna afundou no líquido viscoso. Outro braço emergiu da sombra, e outro, e mais outro. Eram no total quatro braços, dois braços grossos de reploid e outros dois finos, como braços humanos. Axl conseguiu tirar a perna da massa de sombras, e os braços se apoiavam no chão para erguer o restante do corpo. O reploid copiador havia se livrado do aperto da mão do estranho, e estava encolhido ao lado de uma caixa de madeira, observando o espetáculo macabro. Um buraco negro feito de líquido negro girava no chão como um redemoinho, e o corpo se e erguia dele. Primeiro veio a cabeça, depois o tórax e por fim o ser estava deitado no chão da sala, completamente seco. O líquido desaparecera. Era um reploid de armadura roxo escuro, com poucos detalhes. A skin era negra, e no peito havia um cristal triangular verde, embutido dentro do metal da armadura. A face do reploid era alva, e duas listras negras saíam das laterais de seus olhos. Do lado de trás do capacete o cabelo azul se destacava na escuridão da armadura. Um reploid havia saído de dentro da sombra de Axl, e nem ele sabia explicar aquilo.
HOOZUKI-4
Axl correu esbaforido para onde X e Zero estavam. Os dois conversavam com um comandante de um grupo de batedores que havia acabado de derrubar uma nave Maverick, quando Axl entrometeu-se na conversa, puxando X e Zero pelo ombro. -Axl! – Zero ralhou – O que deu em você, garoto? -Tem um reploid lá na salinha de suprimentos! – O reploid copiador disse, balançando os braços e apontando para o corredor de onde viera. -Hã, Axl... – X tentou encontrar as palavras certas, e apontou para o lado. – Estamos na base dos Maverick Hunters. Aqui, tipo, tem reploid pra todo lado. -Não é isso! Venham comigo! Axl saiu correndo de volta para o corredor. X e Zero deram de ombros, e o seguiram. Quando chegaram lá, se depararam com o reploid de armadura roxa, desacordado. Chamaram imediatamente uma unidade médica e o levaram para a sala de análise. -De onde ele veio? – Zero disse, correndo ao lado de Axl e X, logo atrás da unidade médica que carregava o reploid. – Eu nunca vi esse cara por aqui. -Eu já disse pra vocês! Ele pulou de dentro da minha sombra! -Mas como? – X indagou. – Não existe no banco de dados nenhum reploid, seja ele Hunter, Maverick ou civil que tenha esse tipo de habilidade. -Ei, será que esse é meio que um poder oculto dos reploids de nova geração? Sabe, invocar reploids! X e Zero se entreolharam, e voltaram-se para Axl. -Não viaja, Axl. – Ambos disseram. -Ah, qualé! – Ele gritou, parando de correr. X e Zero continuaram seguindo, e o deixaram para trás. – Por que só vocês dois podem ser os poderosos da parada? Somos um trio, eu também mereço alguma coisa! – Ele tornou a correr, tentando alcançar o grupo. – Eu também posso ser o bonzão, tá? Só não sou melhor que vocês porquê sou um cara legal!
As portas da sala de análise se abriram automaticamente, e a unidade adentrou com o reploid misterioso, que foi deitado em uma cápsula. Ela se fechou e uma luz verde passou escaneando o corpo dele. Do outro lado da sala, apoiada em uma bancada teclando rapidamente em um computador estava uma reploid enfermeira, e ao lado dela, a operadora principal do trio: Alia, uma reploid muito inteligente, que sempre ajudava os Hunters durante as missões com informações importantes. X foi até a reploid loira, e apoiou a mão sobre o ombro dela. -Alia, Axl disse que esse reploid saiu de dentro da sombra dele. Há algum registro de qualquer tipo de reploid que faça isso? -Me dê só um segundo. – Ela teclou freneticamente, enquanto dezenas de janelas novas se abriam no monitor. -E então? – Zero disse, se aproximando. – Algo sobre o cara que saiu da sombra do Axl? -Não, nada. – Alia ergueu os olhos, decepcionada. – Não existem registros sobre esse reploid, e a única coisa que conseguimos foi a identificação da chapa de registro dele. Alia virou o monitor para os Hunters.
Reploid 0031574 modelo Hoozuki-4 “BLIND"
-”Modelo Hoozuki-4”? – X olhou para o monitor. – Que modelo é esse? Algum dado? -Um instante. – Alia virou o monitor para si novamente, e digitou no campo de pesquisa “Hoozuki-4”. – Só há um resultado. Eles olharam para o monitor. Era a página de um jornal, datado de vinte anos atrás. A manchete era “Laboratório 6 do governo americano é lacrado, ninguém se pronuncia”, e a matéria dizia:
“O laboratório de pesquisas reploids na Área 51, nos Estados Unidos, conhecido como Laboratório 6, foi lacrado na manhã desta terça-feira. Há mais de dez anos o laboratório desenvolvia reploids para a guerra, quando apresentaram o 'modelo prodígio' do laboratório, o reploid assassino Hoozuki-1. Dentre as habilidades comuns de reploid, Hoozuki-1 também apresentava uma agilidade fora do comum e uma IA absorvente, que sugava os dados dos reploids vitimados e os usava nos próximos combates. Depois de três anos, a nova versão surgiu, o Hoozuki-2, agora equipado para manejar dois sabres energéticos. Algum tempo depois os cientistas do Laboratório 6 apresentaram a terceira versão, Hoozuki-3, que se utilizava de sondas movidas à energia magnética para invadir áreas perigosas ou pequenas demais. No final do ano passado os cientistas haviam anunciado que em poucos meses apresentariam a nova versão, mas então, nesta manhã, o laboratório foi lacrado. Nenhum dos cientistas ou dos reploids da série Hoozuki, que somavam no total 4, os três principais e o que iria ser apresentado, foram vistos. O governo não se pronunciou sobre o caso.” Os reploids se entreolharam. Zero cruzou os braços, e olhou para o reploid na cápsula. -Hoozuki-1, 2, e 3... Então... Esse seria o modelo que eles iriam apresentar? -Eu creio que sim. – Alia olhou para Zero. – Mas... Por onde ele andou? Os quatro reploids da série Hoozuki estão desaparecidos há mais de vinte anos. -Pois bem. Parece que as respostas estão no Laboratório 6. -X, você está pensando em... O reploid azul virou-se para Alia, e em seguida olhou para Axl. -O suposto Hoozuki-4 não pode ter aparecido para nós por acaso, depois de vinte anos sumido. Eu irei ao Laboratório 6 investigar isso. Zero, deixo os batalhões ao seu comando, e Axl, você é o segundo-comandante. -X, se Signas souber que você saiu do seu posto... -Não se preocupe comigo, Alia. Se Signas perguntar sobre mim, diga a ele que me contate.
E assim X retirou-se do recinto.
Um outro dia raiava, fazendo o tom negro das nuvens de poeira se tornar cinza. Nova Utopia estava afundada em uma noite eterna. Zero colocou a mão para fora de uma janela, e capturou entre os dedos um floco branco, que a princípio parecia ser neve. O floco se desfez, sujando sua luva branca de cinza. Cinzas. Estava nevando cinzas da cidade. Já no céu, X viajava em uma nave dos Hunters. Decidira que ia sozinho, pois não queria levantar suspeitas, nem atrair os Mavericks do ar com uma frota escoltada. Em poucas horas chegaria no Laboratório 6, e poderia investigar mais sobre o reploid.
Na base Hunter, uma explosão assustou a todos. O tiro vinha de cima de um prédio caído há alguns quarteirões da base. Axl movimentou todos os Hunters presentes, enquanto Zero estava parado sobre um tablado, ao lado de Alia. -Atenção, Maverick Hunters! – Zero disse em voz alta, com os braços cruzados atrás das costas. – Acabamos de sofrer um ataque de um inimigo classe S – Ou seja, um reploid muito grande. – e os radares localizaram um grupo de pelo menos duzentos Mavericks vindo para cá. Nós entraremos em formação Flecha, e então... -Senhor – Um Hunter ergueu o braço. – Onde está o comandante X? Zero olhou para os lados, um pouco desconcertado. -X não está... Disponível no momento. Estará fora de combate por tempo indeterminado. Axl olhou para os soldados, que pareciam ter perdido a moral ao saber que não lutariam ao lado de X. Alia tomou a frente, e olhou para os presentes. -X está numa missão especial que pode ajudar no sucesso dos Hunters. Ele conta com cada um de vocês para lutar até o fim por nossa causa. Os Hunters ergueram suas armas, e gritaram animados. -Obrigado, Alia. – Zero prosseguiu. – Entraremos em formação Flecha, cercando a primeira leva de Mavericks, e então os grupos seguintes cercarão os flancos dos restante dos oponentes. Axl seguirá com o esquadrão de longo alcance e alvejará os oponentes de áreas elevadas, e eu seguirei com a patrulha de choque. Estão todos prontos? Boa sorte, soldados. O grupo gritou novamente, e Zero saltou do tablado, e seguiu com o esquadrão de choque, os soldados da primeira fileira. Axl correu para o grupo de longo alcance e o restante foi logo atrás. A guerra mal começara. O exército dos Mavericks não era muito grande, mas os Mavericks são poderosos e têm poderes anormais. E o líder do grupo, X, não estava lá. Mas eles lutariam, pelo honra dos Maverick Hunters e pelos humanos que estavam protegendo.
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Post by Blind>RMX< on Dec 28, 2010 13:50:07 GMT -2
CAPÍTULO 2: PROSCRITOS
O exército de Hunters partiu de dentro do prédio. Diante deles, do outro lado da larga avenida, havia um grupo de duzentos Mavericks dos mais variados tipos, desde Hunters infectados pelo vírus Sigma até Mavericks comuns, humanoides, semelhantes a veículos e alguns de aparência animalesca. Não pareciam estar sendo comandados por nenhum Maverick em especial. Zero ergueu o sabre, e os Maverick Hunters correram em direção dos inimigos. Zero, à frente da formação Flecha, atacou o primeiro Maverick, um humanoide, cravando o sabre em seu peito e subindo a lâmina, fatiando o oponente e o Maverick logo atrás dele. O batalhão de choque bateu de frente com o exército Maverick, e logo se misturou à massa de máquinas se digladiando. Atrás deles, o grupo central finalmente entrou em combate, eliminando os Mavericks que escapavam à rede da patrulha de choque. Ainda assim, os Mavericks que conseguiam chegar próximos à base eram alvejados pelos infalíveis atiradores do grupo de longo alcance, liderados por Axl, todos sobre as paredes, mastros e qualquer outro ponto alto de onde pudessem atingir um inimigo. A batalha demorou-se por quase duas horas. Pelo menos cinquenta Hunters já haviam caído, mas muitos outros lutavam bravamente. Alguns, por que esse era seu objetivo, outros, para vingar a morte de um amigo, seja ele humano ou reploid.
A nave de X atravessava as nuvens escuras de poeira, que logo se tornavam acinzentadas, até enfim ele disparar ao céu azul – Com uma estupenda vista do nascer do sol. Mais alguns minutos, e a nave hipersônica desceu em uma linha de pouso deserta. A Área 51 já estava vazia há dez anos. X saltou da cabine de pilotagem, e caminhou na pista de pouso cheia de terra batida. Por fim, após caminhar por alguns minutos, achou um prédio branco, com a tinta descascada onde antes estava escrito “Laboratório 6”. Onde antes seria a porta agora havia uma parede de metal. X não hesitou e atirou no metal, que explodiu. Caminhou para dentro do laboratório e o que encontrou foi uma sala desolada. Computadores destruídos, anotações rasgadas e queimadas. E o que mais assustou o reploid azul: Esqueletos humanos. Eles estavam por todas as partes. Alguns pareciam ter sido mortos sem sequer perceber o inimigo, pois estavam simplesmente deitados no chão, mas outros estavam como se estivesse subindo nos computadores, alguns tinham ossos quebrados, e um deles tinha a metade de cima sobre um computador. A coluna parecia ter sido cortada por um sabre, e do outro lado do laboratório jazia a parte de baixo do esqueleto. X caminhou tentando ignorar os esqueletos, o que era muito difícil. Ele protegera tanto os humanos que não suportava nem ousar imaginar o que ocorrera naquele laboratório. Encontrou alguns disquetes intactos, e os guardou num compartimento da armadura. Quando deu o serviço por acabado, girou o corpo e arregalou os olhos. Seu punho direito brilhou, e converteu-se em um canhão de plasma, a arma assinatura de X. Na porta havia um reploid alto, de armadura vermelha e cinza. Sua cabeça era de dragão, e seus olhos verdes fitavam X com um tanto de respeito. X mantinha o canhão apontado para a cabeça do Maverick, que não tomara nem a posição de luta. -Alto lá, X. Venho em paz. -Em paz? Essa palavra não existe para vocês, Mavericks. Especialmente para um traidor como você, Magma Dragoon. Dragoon riu, e cruzou os braços. -Pois estou falando a verdade agora. Nossa unidade de inteligência descobriu que Hoozuki-4 está com vocês. -Então ele realmente é o Hoozuki-4. -X, ouça minhas palavras. – Dragoon fitou os olhos de X, tão verdes quanto os dele. – Hoozuki-4 é perigoso. Perigoso demais. O Mestre Sigma estava querendo eliminá-lo. -E você acha que eu vou cair nessa? Não importa o quão perigoso é o reploid, Sigma não tem limites para a sua insanidade. -X, imploro que considere o que eu lhe disse. Não estamos mais lidando com um reploid como o Dr. Doppler ou políticos influentes. Estamos falando de um novo Deus da Destruição. Esse Deus da Destruição... X não hesitou e atirou. Magma Dragoon repeliu o tiro com um soco de fogo. Em seguida, o dragão bateu com o punho fechado na parede, quebrando os tijolos. -X!! – Ele urrou, e sua fúria parecia sincera. – Este maldito Hoozuki-4 matou o Mestre Sigma. ELE O MATOU! Então, pela primeira vez desde a nova aparição do dragão, o reploid azul baixou o canhão, mas não o converteu de volta no punho. -Você está querendo me dizer... Que Sigma está morto? De uma vez por todas? -Exatamente. O Mestre Sigma recriou a mim e outros de meus irmãos, mas... Um dia, enquanto todos nós estávamos em estado de repouso, aquele maldito reploid roxo e seus três irmãos atacaram o Lorde. Os três primeiros não eram poderosos, mas o último... Quando nós tentamos salvar Lorde Sigma, era tarde demais. Não restou nada do nosso Mestre. O sinal de seu vírus desapareceu. Foram aqueles malditos que lançaram a bomba. Eles estão controlando milhões de Mavericks em torno do mundo usando um sinal falso do vírus Sigma. Nós, os restantes que estão com a cabeça no lugar, formamos nossa própria organização, os Proscritos. -E onde estão os outros Hoozuki? -Eles estão planejando um ataque contra a base Hunter. -O quê?! Isso quer dizer que... -Eles devem estar atacando sua base, neste exato momento. X deu um passo à frente, e Dragoon abriu espaço. O reploid azul saiu correndo, mas então parou, e olhou para o dragão, que apenas observava. -Se isso for realmente verdade... Obrigado pelo aviso. -Disponha, comandante. X parou mais uma vez. -Dragoon. Eu tenho algo a lhe propor.
IRMÃOS DESESPERO
A batalha estava complicada. Quando os Hunters menos esperavam, centenas de tropas de reforços dos Mavericks chegaram, virando a luta para o lado dos inimigos. Zero golpeou um Maverick, e continuou atacando um outro Maverick de armadura mais resistente. Um inimigo atirou, e um Hunter jogou-se diante de Zero. O reploid vermelho cortou o oponente ao meio, girou e decapitou o outro. Abaixou-se e acudiu o amigo. -Você está bem? -Cumpri minha missão, senhor... -Não diga isso. Você vai sobreviver, e... Zero foi interrompido quando um reploid saltou atrás dele, numa velocidade incrível, e apunhalou o companheiro no peito. O guerreiro loiro girou com espada empunhada, que foi parada por duas lâminas roxas. Zero recuou, e deu de cara com um reploid alto e esguio, de cabelos azuis arrepiados, rosto fino e comprido, e um sorriso macabro acompanhado de olhos vermelhos assustadores. Trajava uma armadura roxa, de peças finas, exaltando sua magreza. -Uau, mas que sorte! – Ele gritou, com a voz esganiçada tentando se fazer superior ao barulho da batalha. – Peguei logo o Zero! Zero saltou para a esquerda, tentando atingir o flanco do reploid, mas ele era rápido demais. Bloqueou a tentativa de ação de Zero antes mesmo dele pisar no chão, lhe atingindo um chute no peito. Zero rolou pelo asfalto quebrado, e olhou para o reploid, que caminhava em sua direção. Zero girou rapidamente e passou uma rasteira no reploid roxo, logo em seguida atingindo-o com o sabre. A lâmina verde abriu um talho no braço do reploid, mas ele pareceu nem prestar atenção para aquilo. Zero ativou as turbinas das botas e se impulsionou para trás, mantendo distância do oponente. -Você é bem habilidoso para um Maverick descerebrado. -E você é bem lento para um reploid tão famoso. – O roxo retrucou. Os dois colocaram os sabres em posição de estocada, e se entreolharam. -Quem é você? O novo braço direito do Sigma? -Sigma? – O reploid riu insanamente, e girou os sabres entre os dedos. – Aquele incapaz não aguentou nem dez minutos em nossas mãos. Nós somos os novos Mavericks. Zero não esperou que ele revelasse mais nada. Iria dar um jeito naquele maluco, e depois o levaria para a base para um interrogatório mais... Invasivo. Correu na direção do reploid. Ambos se encontraram a dois centímetros um do outro. Zero desceu seu sabre, e o reploid girou no ar, na horizontal. O som de metal cortado ecoou no campo. De um lado do campo estava o reploid roxo, com o braço esquerdo cortado na altura do ombro e sem uma grande parte da perna esquerda. Zero estava do outro lado, sem seu braço direito. O braço e o sabre, desligado, jazia longe dele. -Parece que temos um vencedor! – O reploid roxo gritou e girou o sabre que sobrara com o braço saudável. Partiu na direção de Zero. O reploid vermelho saltou, desviou, rolou, mas mesmo com um braço e uma perna danificada, o oponente era espetacular. Foi então que quando Zero saltou, o inimigo baixou o sabre, e o pé esquerdo de Zero voou para longe, dentro da contenda entre Hunters e Mavericks. Sem o apoio do pé esquerdo, Zero caiu ajoelhado. O roxo apontou o sabre para o pescoço de Zero, e sorriu, exibindo os dentes afiados. -Sua hora chegou, Hunter. Sem o líder deles, o exército não passará de um bando de crianças. Quando o sabre desceu no pescoço de Zero, um tiro luminoso explodiu a lâmina, lançando o reploid roxo para trás. Zero virou-se com dificuldade, e viu o que ele menos esperava ver: Era X, com seu canhão de plasma apontado para o inimigo. O reploid não perdeu tempo e pegou seu outro sabre que estava caído ali por perto. X disparou mais uma vez, e o inimigo rebateu o tiro com o sabre. -Ora vejam só! Se não é o X! X não disse nada, e atirou mais uma vez, e mais uma, e mais uma. Zero estranhou, X normalmente não era tão agressivo sem antes um diálogo com o oponente. Então foi quando X atirou, e o inimigo rebateu o tiro, e uma segunda esfera de energia lhe atingiu o ombro, que explodiu, o deixando sem os dois braços. X estava com o canhão abaixado, mas sua mão esquerda estava apontada para o reploid, imitando uma pistola. Fumaça saia da ponta de seus dedos. -Hã?! X, desde quando você... – Zero não conseguia encontrar as palavras pra determinar o que X havia acabado de fazer. -Bang, bang. Você já era. – X disse, e sua voz soou muito mais jovem que o normal. O corpo de X tremeluziu. Sua estatura diminuiu, a cor da armadura passou de azul para preto, e então lá estava Axl. -O bonzão do trio chegou. – Axl disse, e girou as pistolas. – Espero que você goste de ser esburacado. Axl começou a atirar, e saltou sobre Zero, ficando à sua frente. O reploid roxo recebeu alguns tiros, mas então algo estranho aconteceu: Esferas de metal, dezenas delas, começaram a flutuar em torno de seu corpo, repelindo os tiros. Outras esferas maiores vieram do céu, e atacaram Zero e Axl. Algumas liberavam lâminas energéticas, outras causavam apenas impactos. Um tornado de metal girava em torno do reploid roxo, e ao lado dele pousou, sentada em uma esfera, uma reploid garota, de aparência adolescente. As esferas giravam em torno dela e frequentemente saíam do tornado para açoitar Axl e Zero. Sem que os dois Hunters percebessem, as esferas formavam uma grande linha em torno deles. Um outro reploid passou correndo à uma velocidade incrível sobre as esferas, saltou e chutou Axl no rosto. O Hunter pistoleiro caiu deitado, mas levantou-se rapidamente e tentou acertar o inimigo, sem sucesso. Quando não era sua velocidade, eram as esferas que entravam no caminho dos tiros. O reploid voltou para dentro do tornado, que cessou seu giro. As esferas se encolheram e se encaixaram em espaços da armadura da garota. Os três tinham as mesmas características: Armadura roxa e cabelos azuis, além dos aterradores olhos vermelhos. -Esse modelo de armadura... – Zero resmungou, soltando faíscas pelo corpo. -Olá, Maverick Hunters. – A garota sorriu e mandou um beijo para Axl. – Especialmente para você, ruivinho bonitinho. -Vocês me disseram que esses caras eram fortes! – O outro, de velocidade anormal, pulou, e então olhou para seu parceiro, quase destruído. – Ué... Ou eles são fortes ou você que é fraco mesmo, Dual. Dual resmungou algum palavrão e chutou o pequenino, que desviou com facilidade. -Uno, Dual. – A garota repreendeu. – Parem de brigar. -Certo, Trixie. – Os dois disseram, cabisbaixos. -Uno, Duo, Tri... – Axl olhou para eles, contando. – Vocês são os três modelos Hoozuki! -Ah, que gracinha! Além de ser um gatinho ele é inteligente! – Trixie provocou, piscando para Axl. -Trixie! – Uno ergueu os braços, com cara de sério. – Pare com essa sua tara por garotos ruivos! -Ah, não se preocupe, Uno... De todos os garotos ruivos que eu gostei, tenho certeza que esse não vai quebrar ou morrer tão rápido quanto os outros... Axl estremeceu, e por um segundo sentiu vontade de se esconder atrás de Zero. O trio deu um passo à frente, e Trixie curvou-se cordialmente. -Pois bem, caros Hunters... Nós somos os Irmãos Desespero. Soubemos que você estão com Tetra, nosso irmãozinho mais novo. -Ele veio até nós. – Axl respondeu. -Tetra, Tetra... – Trixie suspirou, e jogou os longos cabelos azulados para trás. – Sempre será a ovelha negra da família. -Sim. – Dual confirmou com a cabeça. – “Ah não irmãos, eu não quero matar” Mi, mi, mi! -Ele é a desgraça dos Irmãos Desespero. – Uno maneou a cabeça, decepcionado. -E pelo que vejo – Trixie prosseguiu. – Vocês não vão nos entregar o Tetra se não acabarmos com a sua raça. Pois que assim seja. As esferas se desprenderam do corpo de Trixie, e aumentaram de tamanho, girando em torno dela. Antes que eles pudessem fazer qualquer coisa, uma grande luz surgiu entre as nuvens de poeira. Uma bola de energia enorme. Trixie lançou todas suas esferas para deter a esfera, mas só conseguiram desviá-la, atingindo uma área destruída da cidade, que agora ficara mais destruída ainda. -Mas o que... – As palavras sumiram da boca de Trixie.
ALIANÇA
De dentro das nuvens saía algo ainda maior que a bola de energia. Era uma nave, não exatamente uma nave, mas um cruzador gigantesco, todo pintado de vermelho e preto. Viajava à uma velocidade incrível, abrindo largos rasgos nas nuvens, deixando a luz solar entrar na cidade. Pequenos compartimentos se abriram nas laterais do casco da nave, e centenas de robôs-nave desceram, atirando nos Mavericks que ainda estavam atacando. Uma sombra maior pairou sobre o campo de batalha. Trixie criou um tornado de metal, mas a sombra lançou um furacão de energia verde, jogando os Irmãos Desespero contra as ruínas de um prédio. -Quem são esses? – Zero perguntou, ficando em pé com a ajuda de Axl. O criador do furacão pousou diante de Zero de Axl. Era uma coruja reploid, de olhar aguçado e usando uma boina que antes era da caída Repliforce, agora com o símbolo dos Mavericks. Ele olhou para os dois Hunters e bateu continência. -Aliança dos Proscritos se apresentando para a batalha! Zero balançou a cabeça, sem acreditar no que estava vendo. -Storm Owl?! – Ele disse. – O que você está fazendo... É... Vivo?! Uno saltou do prédio e correu na direção de Storm Owl, mas foi impedido por um golpe mais rápido, que o fez cair de cara, quebrando o concreto da calçada. Ele ergueu o rosto e viu um par de pés grandes de pássaro. Ergueu mais os olhos e se deparou com um reploid avestruz, que tirava um sarro da cara do corredor. -Overdrive Ostrich? – Zero parecia não acreditar no que estava vendo. Eram os Mavericks que ele e X haviam eliminado há muitos anos atrás, todos os ajudando! Trixie subiu em uma esfera, enquanto Dual se escondia atrás de um escuro feito com as sondas flutuantes da irmã. Ele estava fora de combate. Lançou três esferas contra Zero e Axl, mas uma onda de fogo varreu a primeira do ar, enquanto as outras duas foram repelidas por chutes de dois Mavericks lutadores. O fogo saltava das brechas em suas armaduras, e eles pareciam animados pra uma luta. -Flame Stag e Magma Dragoon prontos para o combate corporal! – Flame Stag disse, e fogo saiu de suas narinas. Magma Dragoon acenou com a cabeça para Zero. -Você parece ter perdido o vigor de anos atrás, não é Zero? – Dragoon provocou. -Cale a boca, Dragoon! – Zero gritou, nervoso. Uno corria no meio da batalha, perseguido por Overdrive Ostrich. A velocidade dos dois era insana, e eles criavam rastros de fogo por onde passavam. Trixie lançou dezenas de sondas em direção de Flame Stag e Magma Dragoon, certa de que eles não conseguiriam defender-se de todas. Então, algo imenso caiu do céu. Um escudo negro gigantesco, que repeliu as esferas de metal como se fossem bolinhas de pingue-pongue. O escudo tremeu, braços e pernas saíram dele, e logo em seguida uma grande cabeça. -Ótimo timing, Rainy Turtloid! A tartaruga gigante soltou um resmungo e riu. -Ninguém pode perfurar meu escudo impenetrável! - Ele gabou-se de sua casca. De dentro da nave desceram mais dezenas de Mavericks, todos antigos inimigos, agora aliados dos Hunters. E o principal do combate acabara de chegar: Jet Stingray descia a toda, planando no ar, e em suas costas, como se estivesse surfando, estava X, com seu canhão preparado. Stingray deu um giro no ar, e X saltou ao lado de Axl e Zero. -Vocês estão bem? -Eu estou péssimo, e vou ficar pior se você não me explicar o que é tudo isso! – Zero reclamou. -Sigma não está mais no comando dos Mavericks, e sim esses três modelos Hoozuki. Os Mavericks revividos formaram uma nova organização, os Proscritos, e temos uma aliança. Vamos lutar juntos contra os Hoozuki. -Espera – Axl olhou para X. – Você tá brincando, né? Hunters e Mavericks? Juntos? -Os tempos de guerra exigem esse tipo de atitude. – Magma Dragoon explicou. – Além do que vai ser divertido lutar ao lado do comandante X novamente. X sorriu. O sonho dele, da união entre todos, estava completo. Exceto, é claro, pelo exército de Mavericks que estava contra eles. Mas eles dariam um jeito nisso.
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